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segunda-feira, outubro 14, 2013

Guilherma despiu a toalha branca que cobria seu corpo, ligou o chuveiro na temperatura mais alta possível só para estar em sincronia com a intensidade dos seus sentimentos. A água fazia um caminho contínuo sobre sua face, boca, seios, umbigo, coxas, e a maquiagem pesava sob suas bochechas tal qual seu coração que estava em reparo. O batom vermelho precisou ser limpado por seus dedos algumas vezes até ser diluído junto com o rímel e lá estava ela de volta a quem realmente era! Era uma moça no corpo de mulher, era cabelos longos e negros que se estendiam pelas costas. Tão inteligente, com olhos que pareciam guardar todo o mistério do mundo, olhos atemporais com tão poucos anos de vida e uma mala de experiência que só carregam os que estão sempre em mudança. Escorria também seu coração e ela gostaria de continuar embaixo da água pelo resto da noite, mas, havia um vestido preto esperando por ela assim como a vida que esperava que ela seguisse em frente. Saiu, secou o cabelo, perfumou todo o corpo e colocou o vestido; ele valorizava sua fina cintura, grossas coxas e seis fartos. Dessa vez iria sem maquiagem ainda que não quisesse ir, pensamentos borbulhavam em sua mente, parecia uma sopa de todo amor e decepção que sentia. Auto-confusão. Guia, como seus amigos a chamavam, era uma prostituta, odiava dar mas se vendia facilmente. O que dava? Seu tempo, ela não vendia o corpo mas compartilhava a alma com aqueles que a encantavam. Os homens e mulheres a compravam com humor, inteligência, autenticidade e aí a roubavam também. Aquela noite ela se culpava tanto por ser uma puta de marca maior... Fora comprada, presa, conquistada por um babaca qualquer e ele a esperava lá embaixo, louco pra beijá-la na boca, para tirar sua lingerie e fazê-la sua. Mas Guia já não se queria mais assim, tão amante, tão devota a cuidar de alguém que só queria seu corpo e foi descendo o único lance de escadas. O clima era frio, um céu sem estrelas, ventava bastante e ele abriu a porta do carro pra ela, os olhos se cruzavam querendo dizer coisas diferentes e Mars tocava ao fundo. Ela queria dar pra ele, queria ser sua, estar perfeitamente encaixada ao seu corpo, em seus braços e tudo isso vinha com o amor. Ele só queria fodê-la, beijar aquelas coxas, chupar aqueles lábios, e tudo isso vinha com tesão, somente. Guia tão esperta, tão mulher. Gustavo tão esperto, tão menino. Era tudo partida, estava tudo partido e ela não queria sentimentalismo (a não ser que ele a implorasse para ficar) só queria acabar com aquilo, tirar o vestido e dormir peladamente confortável e não mais se sentir usada. Guia se sentira quase sempre assim, era como eles geralmente a queriam mas ela ia tão além que sobrava... Sobrava nua, com uma taça de vinho e o coração espremendo-se dentro do peito. Então sentou sobre as pernas de Gustavo, desenhou o contorno do próprio corpo com os dedos dele e comandou a pulsação sempre que rebolava e mordia gentilmente sua bochecha. Entregou os pontos. Entregou sua desistência ali no colo dele, de onde saíra deixando-o excitado. A partir dali seriam caminhos diferentes, sua boca confessou todo amor e tesão que inundavam seu corpo e seus olhos mostraram-no todo o descuido em que ela estava afogada. - Não! - Era a palavra de Guga, era sempre ela e Guia deu-lhe adeus, voltou para o quarto, deitou de vestido e nem sequer uma lágrima derramou, apenas pegou um caderno e tomou notas de toda a dor que secamente sentia.

sábado, outubro 05, 2013

Ninguém é perfeito, mas, aprecio quem é coerente em suas próprias ações. Conheci um cara que só me deixou uma dúvida: eu o conheci e ele mudou ou nunca o conheci e ele não se dá mais ao trabalho de esconder quem realmente é? Não se trata apenas de um fim de afetividade ou relacionamento, mas, odeio pessoas que fingem ser quem não são e parece que sou imã para esse tipo de gente. Sou doida e tenho minha infinidade de defeitos mas sou profundamente agradecida a mim mesma e a Deus por nunca esconder de ninguém quem realmente sou. Me ferro, mas falo o que penso na cara. Me ferro, mas se não tô afim de sair: não saio. Me ferro, se quero dizer que te amo e quero você: eu digo. Me ferro, mas se te quero bem te trato bem. Me ferro, mesmo que você tenha me feito mal. Me ferro, mas se me pedem a opinião, sou honesta. Me ferro, se me chamam pra sair e tô sem dinheiro, eu digo: tô lisa. Me ferro, se o cara quer e eu não quero, digo: não te quero. Me ferro, quero falar de sexo: falo. Me ferro, não quero mais andar de mãos dadas, dar risada da piada, dizer que amo Beatles sem amar: não ando, não sorrio, não digo. Portanto que mal há em retribuir algumas verdades? Vou puxar um fio solto de outro pensamento e creio que há muitas pessoas que não sabem amar. Elas amam mas ainda são troncos, estão um pouco longe do amadurecimento. O tronco é forte, é sustentação, preparação pro que vem de belo, pra galhos maiores, sombras frondosas, frutos doces, e tenho encontrado uma porção satisfatória de tocos na minha vida. Mas para tudo há um tempo, creio fielmente nisso e o tipo de árvore que a pessoa se torna é um combo de [Escolhas + Tempo + Sabedoria + Amor + Pegada], juro que queria conseguir comprar um assim no Mc Donalds mais próximo. Tô conhecendo um cara que só me deixou uma dúvida: tronco ou árvore?