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quinta-feira, junho 20, 2013

Uma mistura de Peônias, Morango e Alcaçuz era a fragrância que emanava das mechas de seu cabelo que pinicavam seu rosto furtivamente enquanto Maya acelerava o passo. Fora um dia difícil e um caos instalava-se dentro dela. Ouvia-se a brisa e lá estava a lua explodindo em um brilho sobrenatural, cheia e linda, iluminando o caminho terroso e longo percorrido por ela ao sair da universidade em direção a casa. Uma, duas, três finas lágrimas, apenas por achar que só haveria aquele momento pra chorar, aquele momento pra contemplar a si mesma e o céu estrelado particularmente maravilhoso. A morte estava rondando-a, as inseguranças, os questionamentos, as novas descobertas e as perdas, ah, as perdas sempre estão lá, são melhores amigas da distância, confidentes e traiçoeiras. Pois Maya fora católica, se batizou, fez primeira comunhão e crismou-se, hoje sentia-se enojada de tal entidade e religião, vira tanta barbaridade lá dentro (de certo também vira amor) mas isso fora ha tempos, percebera que não era uma pessoa manipulável e Aquele que vem é humanamente indescritível ainda que alguns tomados por um falso poder O descrevem, então sua espiritualidade tomou um rumo oposto ao da religião. Ao percorrer o caminho para casa, ela pensava no dia e em como se sentia impotente por não poder desvendar a morte, e por não poder desvendar a vida. Queria ser capturada pelas estrelas que pairavam sobre sua cabeçaqueria que a dor não batesse tão forte sobre os bons corações, queria que o Brasil não deixasse de lançar seus gritos de justiça sobre aquele Estado podre e esmagador sob o qual vivera, queria que não houvesse aula para que o ego dos professores não amargasse tanto em seus lábios, queria que abraçar alguém que estava longe fosse possível apenas por querer, e ela queria, queria saber mais sobre amar, discernir, ouvir, decidir. O livre-arbítrio é caro! Antes agir por medo! Medo do inferno, da igreja, do Estado, da mídia, das pessoas, talvez seja essa a porta larga a qual Jesus refere-se, por que talvez também a porta estreita seja pensar por si só, seja amar apesar do peso esmagador do mundo sobre seus ombros, é mais apertado de passar por que te julgam por ser negro, por amar alguém do mesmo sexo, por preferir sertanejo a rock, é mais apertado porque quando você questiona, só a sua fé em você mesma e naquilo em que acredita, podem te salvar da prisão que o medo é. Maya as vezes o encontrava, o medo, ele a freava, queria dançar tango com ela ainda que o desafiasse dezenas de vezes todos os dias. Suas crenças passadas e atuais chocavam-se aquela noite, ao menos ela achava que aquele era o caminho por que não se permitia perder pra morte, baseava suas escolhas na felicidade  ainda que seus pensamentos e dúvidas fossem eternos, a vida não era, portanto assim a gastaria, tentando a felicidade, descansando a dor que as vezes vinha a tona nas ruas tomadas de solidão. Tentando ser feliz, mesmo querendo tanto, mesmo mudando tanto, mesmo vivendo.